"Uma visão única produz ilusões piores do que uma visão dupla ou do que uma visão de um monstro de múltiplas cabeças." Donna Haraway no Manifesto Ciborgue.
"Com o ciborgue, a natureza e a cultura sao reestruturadas: uma não pode mais ser objeto de apropriação ou de incorporação pela outra." Donna Haraway em Manifesto Ciborgue.
é preciso desaparecer para comparecer
FERIDA PERENE
FISSURA ABRE
ESPAÇO
articulações macias
ossos maleáveis
a ideia de ser humana, a cada dia, tem me interessado menos. o projeto de vida ao qual re-produzimos natural-mente aprisiona e produz seres mortais e mortíferos - o humano. busco, assim, formas e modos não-humanos de ser e poder viver a vida. em breves momentos talvez consiga, mas não é nada fácil. requer atenção, bons e boas amigas e amigos e coragem pra viver os lutos e desaprender um série de bobagem que nos ensinaram.

comigo ecoam vozes de krenak, octavia, donna, iyengar, kuniichi... que me dão pistas e ensinamentos de como abandonar o humano e ser outra coisa que ainda não tem nome ~ e que delícia não ter nome.

as semanas não têm sido fáceis, nem leves. há alguns dias uma raiva tremenda tomou meu corpo-dias. da raiva fiz liberação em simhasana ou postura de leão. simha significa leão e esse asana é dedicado a Narashima, avatar de Vishnu (deus hindu responsável pela sustentação do universo) que, encarnado nessa forma, transforma-se em pessoa-leão. 

essa figura relaxa a musculatura do rosto, olhos, mandíbulas e pescoço, ajuda a expulsar a raiva e frustração guardadas, estimula a coragem e se praticada continuamente torna a fala mais nítida e o olhar menos cansado.

a raiva não desaparece, só muda de forma, toma outro espaço nos dias e no corpo em forma-força de leoa. as posturas, diferente do pacto colonial, não estão para a(o) praticante para amansá-la(o), mas para promover um mergulho profundo em outras camadas de si que esquecemos/ou não sabemos como acessar, acolhendo também o que é raivoso, feroz, furioso e demoníaco.
dores
inflamadas
inflamáveis